segunda-feira, 29 de março de 2010

Crítica: O caçador


Um dos melhores filmes policiais de 2009 é coreano.


O Oriente ensina


Por Miguel Moura
07/10/2009

O cinema oriental é mesmo fascinante. Nenhuma escola de cinema forma cineastas com tamanho apuro visual quanto os orientais; é impressionante constatar como apesar de diferentes países e nomes, a qualidade se mantém. O cinema chinês, por exemplo, é responsável pelo que talvez seja o maior diretor de filmes de ação existente, -
John Woo- cujas cenas em câmera lenta, perfeitamente orquestradas servem de inspiração/cópia até hoje. Da china veio também o genial Ang Lee; já o Japão é casa de um dos maiores gênios do século 20 -Akira Kurosawa, para ficar em apenas alguns exemplos. O cinema coreano demorou a se firmar internacionalmente, no entanto, nos anos 2000 obras geniais de diferentes gêneros ("Oldboy" e "O Hospedeiro" para citar alguns) conquistaram o mundo e consolidaram a Coréia do Sul como mais um celeiro de grandes obras.

O Caçador (The Chaser , 2008) é um desses exemplos de magnitude do cinema advindo do oriente. A obra narra à história de Joong-Ho, um ex-detetive e agora cafetão, que se vê afundado em dividas ao passo que suas "meninas" estão desaparecendo misteriosamente. Mi-jin, uma das únicas que sobraram, também desaparece após um programa, o que leve Ho a perceber uma ligação entre os sumiços. Todas as meninas desaparecidas atenderam ao mesmo homem. Sabendo disso, o cafetão vai atrás de sua empregada, e consegue capturar o culpado. Contudo, Ho e a policia não conseguem encontrar o local dos crimes, nem provais cabais, apesar da confissão do assassino. O diretor Hong-jin Na cria a partir das 12 horas de retenção sem mandado do prisioneiro, um tenso e bizarramente bem humorado policial.

O humor peculiar da obra advém principalmente da força motriz do longa: a violência. Seja ela emocional ou física (especialmente essa) estilizada ou crua, os exageros do protagonista aliada à irreverência do psicopata e primordialmente a brutal incompetência da policia coreana (pintada aqui, como sendo possivelmente a pior do mundo) fazem rir como poucas comedias em cartaz. Primeiramente, podendo parecer involuntário, a busca pelo humor é claramente percebido nas cenas passadas na delegacia (como não podia deixar de ser) que exibem um timing cômico perfeito. Muitas vezes, Hong-jin procura enquadrar feições e reações típicas do cinema de humor e inclui até uma hilária sub-trama envolvendo o prefeito de Seul.

Muito da força de O Caçador (titulo presente nas cópias exibidas no festival) reside em seu protagonista, um sujeito violento por natureza, mas que nem por isso deixa de demonstrar seguidamente sua humanidade - a relação com a pequena filha de Min Jee escancara bem toda a complexidade do personagem- e busca quase que irracionalmente sua protegida, botando em risco até mesmo sua vida e liberdade em prol dessa caçada. Não se pode deixar de ressaltar também o inspirado trabalho de
Jung-woo Ha como o psicopata Young-min Jee, alternando momentos de puro sadismo com uma insanidade quase juvenil.

Apesar de ter seu ultimo ato enfraquecido por coincidências absurdas, The Chaser funciona bem como um policial tenso, otimamente como aventura bem humorada e brilhantemente como sátira a um sistema policial falho. Tudo isso aliado a uma direção energética que nunca perde de vista as emoções de seus personagens, e uma montagem vigorosa, tornam a produção mais um belo exemplar do cinema oriental, que também é responsável por outras perolas neste festival como "Ainda a Caminhar" e "Sede de Sangue". É rezar para Hollywood não descobrir também o gênero policial, pois o terror já foi devidamente profanado.


*texto originalmente publicado no site almanaque virtual.


Um comentário:

  1. Gostei da critica e ri do final quand vc cita " É rezar pra Holywood não descobrir o género policial..." bem isso mesmo kkkk

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