sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Crítica: Invictus


As mímeses de Mandela

Por Miguel Moura

27/01/2010

Um filme sobre Rugby não é exatamente o sonho de consumo do público brasileiro. Mas a verdade é que pouco importa o esporte jogado, poderia ser até futebol, mas toda essa temática seria eclipsada pela figura imponente de um dos maiores personagens do século XX. Em Invictus (2009), Mandela descola de sua imagem quase beatificada e transforma-se em ser humano na performance simbiôntica de Morgan Freeman.


São nesses momentos, em que o magnífico Freeman está em cena, que o filme cresce, deixando para trás a simplicidade de um filme esportivo comum e abraçando a alma de Mandela. O ator norte-americano consegue transmitir toda imponência e fragilidades concomitantes naquele homem, que, ao mesmo tempo em que sofria com uma simples pergunta sobre sua família, dava demonstrações de profundo conhecimento político e humano para contornar as mais delicadas situações em um período conturbado de seu país natal. Freeman mimetiza Madiba (como é chamado o ex-presidente da África do sul, por seus amigos e companheiros) de uma maneira impressionante, sendo certeiro em sua composição tanto psicológica quanto física - é de se notar a fragilidade no caminhar de um senhor que passou 30 anos atrás das grades.


Em mais uma demonstração de sua inteligência política, Mandela enxerga no Rugby - esporte segregador e elitista no país - a chance de unir, pela primeira vez, a nação em torno de um objetivo comum: a vitória na copa do mundo. Sendo assim, o presidente estreita sua relação com o capitão do time François Pienaar (Matt Damon), e é essa relação que conduz o filme a rumos previsíveis, mas não por isso menos tocantes. A compreensão de Pienaar da importância de Mandela em um momento em que o senso comum branco o taxava de terrorista, é sensibilizante.

Clint Eastwood retoma a mão firme do grande diretor que é e, após o fraco e moralmente confuso Gran Torino, volta a demonstrar seu talento para contar histórias, apostando em closes e planos-detalhe, escancarando, assim, a emoção de cada personagem enquadrado. Eastwood é feliz também na direção das cenas de ação que envolvem o jogo de rugby, utilizando-se de cortes rápidos e da câmera lenta, que mesmo super-utilizada, continua a servir seu propósito de estender o tempo cênico e criar emoção através da apreensão.

Esbarrando por vezes na pieguice e na burocracia de seu tema, Invictus cresce na riqueza de seu protagonista e de seu intérprete. Nessa temporada de prêmios, o novo filme de Eastwood corre por fora, mas não seria surpreendente se abocanhasse algumas estatuetas, já que Hollywood adora temas de superação. Nesse caso, ainda com mais força, já que se trata de uma história verídica, outra fixação da academia.

*texto originalmente publicado no site www.almanaquevirtual.com.br


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