quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Crítica: Dumbland

David Lynch é um diretor magnífico e, por isso, mereceu uma mostra em homenagem à sua carreira, realizada no último mês de dezembro e patrocinada pela Caixa. O texto a seguir se refere a um dos trabalhos menos conhecidos do diretor: Dumbland. Uma animação dividida em episódios, em que o diretor demonstra todos os seus mais famosos cacoetes. O mais curioso, porém, é a participação de Lynch também como dublador - de todos os personagens.


David Lynch é um artista de visão única. Todo seu apreço pela estética surrealista, pelo uso da mesma como artífice de desmantelamento dos paradigmas sociais; sua fixação por personagens desmistificadores e claro, sua já conhecida tara por cowboys estão presentes na série de curtas animados Dumbland, produzidas por ele em 2002.

Dumbland narra pequenas situações nada cotidianas vividas por personagens tipicamente “Lyncherianos” dentro da estética tosca de traçados grosseiros e humor que beira o nonsense. Na realidade, o diretor só muda de meio para explicitar uma vez mais sua bem particular maneira de ver o mundo, e, principalmente, a sociedade americana.

O personagem principal é a síntese perfeita da animação. Bizarro, grosseiro e flatulento, ele transparece perfeitamente os valores a serem criticados por Lynch, que lança um olhar irônico sobre o típico americano caipira, aqui, obviamente, hiperbolizado.

Assim como toda obra do diretor, Dumbland pode ser mal compreendido ou simplesmente não apreciado. No entanto, é mais uma forma de expressão desse artista completo, que já passeou pelo cinema de arte, pelo chamado “cinemão”, pela TV, e aqui utiliza o desenho animado para fazer o que faz de melhor: utilizar metáforas sociais e o surrealismo para ser, paradoxalmente, um realista.

Miguel Moura


*texto originalmente publicado no livro "David Lynch - O Lado Negro da Alma"


Vídeo do primeiro episódio:



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